“FÉ E ESPERANÇA NA RESSURREIÇÃO”
HOMILIA EM HOMENAGEM A DOM ALBANO- DIA 01/02/2017
Há uma expressão que diz: “Já nascemos com uma dívida a ser paga em prestações no decorrer da vida, que fazemos desgastando-se o corpo em tempo e energia em prol de um ideal, não de coisas, mas sim de uma causa”.
Temos a opção de buscar fazer a vontade de Deus segundo os dons a nós conferidos, cientes e conscientes de ser sinais e testemunhas de sua presença no mundo, a exemplo do evangelho de Mt 25, 15 que nos remete à figura dos operários e à importância do cultivo dos dons.
No exercício dos dons vamos liquidando esta dívida, que ocorre na medida em que nos colocamos a serviço do Reino em prol dos irmãos, nos dedicando e nos doando, sendo protagonistas do anúncio do Reino e promotores da paz, a exemplo das bem-aventuranças (Mt 5, 1-11). Ao fazer memória a Dom Albano, evidenciamos uma vida inteira, dos 12 aos 86 anos, de entrega e doação à Igreja e ao anúncio do Reino.
Dom Albano, o Bispo contador de histórias, que também fez história na história da Igreja Particular de Londrina, do Brasil e da América Latina e porque não dizer do mundo.
Dos muitos feitos nos vêm à mente a figura do Padre ativo nas Universidades, atuando como mediador e interlocutor nas questões complexas e conflituosas; o Bispo catequético e pastoralista, ecumênico e voltado às causas sociais, estando à frente das Pastorais Sociais. O pastor responsável pelo projeto Igrejas Irmãs e grande incentivador dos Grupos Bíblicos de Reflexão, do Dia da Palavra, dos coroinhas e das vocações, pedindo sempre ao Senhor operários para a sua messe. O mentor da construção do Centro de Pastoral; da implantação do Dízimo e dos movimentos contra a corrupção, bem como, o grande apaixonado pelo Serviço Escola ECC, por entender ser este Serviço um instrumento a alicerçar as famílias, onde casais evangelizam outros casais. O criador do Fundo Arquidiocesano Pastoral de Comunhão e Partilha - FAP e a Cáritas, como veículo de ação social, e dentre outros de seus trabalhos, destacamos o da Catequese Renovada, a tradução do Catecismo da Igreja Católica e a criação do CECCAT.
Dom Albano, um Bispo de fala mansa, grande comunicador, carismático e de fácil comunicação. Um pastor voltado à Palavra e a Eucaristia, que entendia estar no mesmo patamar de importância “não é menor a Palavra de Deus que o Corpo de Cristo”.
Por vezes enérgico, entretanto dotado de grande generosidade e humildade, buscando sempre apaziguar as coisas no entendimento do bem comum das partes.
Ao ler a sua biografia, entre tantas coisas que consideramos relevantes, apontamos algo que nos chamou a atenção por entendermos reproduzir a motivação que norteou as suas ações em vida, que é a passagem de “quando Jesus foi fotografado”. O ocorrido se deu por ocasião de sua posse em Londrina, em 09 de maio de 1992, quando Dom Albano teve como gesto algo que emocionou e impactou todos os presentes, inclusive jornalistas, ao ser questionado por um deles “O Senhor trouxe alguma orientação secreta do Vaticano para realizar aqui?”, e ele, em reposta, abrindo o sacrário “simbolizando as portas sagradas do respeito e do diálogo sendo aberta entre o pastor e seu novo rebanho”, declarou que tipo de segredo traria consigo “eis o meu grande segredo. Por toda a minha vida o meu trabalho é levar as pessoas a descobrir Jesus vivo na Eucaristia no meio de nós”. Algo que se faz representar pelo seu zelo incansável pelas celebrações e adorações eucarísticas e que vem de encontro com o compromisso firmado quando da sua ordenação sacerdotal de “ser uma hóstia pura, santa e de agradável odor ao Senhor”.
“Eu garanto a vocês: se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto” (Jo 12, 24). Assim, a considerar a vida de Dom Albano, entendemos que a sua morte adquire características de continuidade. Um homem que tanto fez em vida e que deixa um legado de testemunhos no cumprimento de sua missão a ser seguido, perpetuando a colheita dos bons exemplos e ensinamentos.
Isso nos leva há refletir um pouco sobre a morte, numa tentativa de desmistificá-la como algo ruim e definitivo. Para tanto, utilizamo-nos da fala de São Francisco de que a morte não é uma ameaça, mas uma amiga, uma companheira inseparável, a qual entendemos nos sirva de instrumento, o veículo que nos leva de volta à casa do Pai. Certos de que não somos seres imortais, e neste mundo terreno tudo é passageiro e temporário, só o amor sentido, vivido e plantado permanecerá.
Logo, devemos ter enquanto compreensão de que a morte não é algo sem sentido, faz parte de nossa existência e com habilidade caminha conosco neste mundo, chamando-nos à transformação, a considerar os verdadeiros valores que dão sentido e ressignificam as nossas vidas.
Ela nos faz conhecer que a vida está além desse mundo terreno e que a existência humana transpõe os caprichos deste mundo. A morte não tem um fim em si mesma, pois estamos no mundo mas não somos do mundo, somos todos peregrinos do céu (Jo 17, 14).
Esta certeza encontramos na morte e ressurreição de Jesus, pois com a sua morte aconteceu a morte e ressurreição da vida eterna. A morte nos impede por certo tempo de vivermos neste mundo, mas não para sempre, pois cremos na ressurreição de Cristo, nossa páscoa definitiva “Ele vai enxugar toda lágrima dos nossos olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor” (Ap 21,4).
Portanto, não há espaço para dúvidas, pois Jesus, o nosso Mestre e Senhor, nos assegura que, “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem Crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Crês nisto?” (Jo 11, 25-26). Nosso corpo mortal se desgasta e se desfaz na vida terrestre; mas, através da ressurreição, Deus leva o nosso ser à vida plena onde seremos revestidos, mediante a sua Graça e misericórdia, tornando-nos novos seres espirituais em Deus, quando celebraremos a nossa Páscoa definitiva. (2 Cor 5, 1-10).
A exemplo dos nômades que instalam suas tendas no deserto e que, de tempo em tempo se desinstalam de um lugar para o outro, assim também é a nossa vida, um constante desinstalar-se para estar um dia em definitivo com Deus.
O texto sagrado de Jo 14,2-6 nos aponta Jesus como verdadeiro caminho para a verdadeira vida, nos assegurando que na casa do Pai há muitas moradas. Algo cultivado por Dom Albano nos seus ensinamentos de que Deus é Pai e não padrasto e de que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida e a felicidade de que todos precisamos.
“Credes em Deus e credes também em mim” (Jô 14, 1), confiança sempre demonstrada por Dom Albano e externada em sua fala nos contatos tidos às vésperas da sua cirurgia, de que estava confiante em Deus, pois “se estava nas mãos de Deus estava em boas mãos”. Dom Albano sempre foi um homem zeloso e de muita fé e ousadia.
Lembrando de que, assim como Jesus teve o seu peito aberto, transpassado por uma lança, de onde saiu sangue e água, o sacramento da redenção, também o discípulo é chamado a estar sempre de peito, mente e coração abertos para o amor, a misericórdia, a justiça e a paz.
Fica aqui a nossa alegria e gratidão à Dom Albano, pelo memorável dia 31 de julho de 1994, em que fomos ordenado sacerdote pela imposição de suas mãos.
Também a nossa gratidão por toda a sua vida e dedicação, pelos inúmeros serviços e ministérios criados, deixando-nos um grande legado a ser seguido, na certeza de que cumpriu a sua missão, enquanto pastor e profeta, mesmo em situações adversas do nosso tempo, “combateu o bom combate, terminou a corrida, guardou a fé”. (2Tm 4, 7)
Peçamos a Virgem Maria que esteve junto a Jesus aos pés da cruz, que nos console e conforte com a sua ternura de mãe, agora e na hora de nossa morte. Amém!
Pe. Luiz Laudino
Diretor Espiritual Regional Sul II - ECC
Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem